quarta-feira, 26 de agosto de 2009

MORTE DE UM SALTIMBANCO

Num soberbo salão de um tribunal solene
Num auditório imenso, que amotinado jaz
Cuspindo a mil bordões aquela turba infame
Contra um indefeso réu, um tímido rapaz
Que sentado em seu banco quase inderente
À sombra dessa plebe indômita e cruel,
Parece mais que um réu, é um inocente
Um mártir que abençoa seu cálice de fel
Começa a acusação a turba audaz reprime
Sua ira infernal, que logo anseia o fim,
Termina a acusação, o réu não nega o crime
Só pede para falar e fala assim:
“Senhores, eu tinha uma filha
Formosa como uma flor
Um encanto, uma maravilha,
Das obras do criador,
Companheira estremecida
Dos dias da minha vida,
Relíquia santa e querida
De uma aliança de amor.
Um dia, oh fatal lembrança
Dia de eterno pesar,
Faltou-me em casa a criança
A alegria do meu lar
Corri a itália e a frança,
Corri a espanha também
À procura da criança
Por todo este mundo além.
A todos que eu encontrava
Por ela lhes perguntava
Mas ninguém notícias dava
De minha filha.
Ninguém.
Um dia, no mês de agosto
Perdida a esperança e a fé
Estava eu ao sol posto
Junto a um teatro de pé.
Ouço gritos e risadas,
Palmas, brados e gargalhadas
Horripilantes chamados,
Escandalosos até,
Não sei que emoção senti
Dentro do meu coração
Não sei que força de instinto,
Impeliu-me pra multidão.
Entro, paro meio suspenso
Ao ver-me num circo extenso,
Repleto de um povo imenso,
Numa estupenda oblação.
Era uma linda criança,
De cabelos aos anéis,
Vestida de malha fina
Deslumbrante de européis
Que ao imperioso mandado
De um saltimbanco malvado
Exibia num tablado,
Números difíceis e cruéis
Era tão linda, tinha na testa
Um sinal carmesim
Um sinal igual ao desta
Tinha minha filha, sim
Cravo em cheio os olhos nela
E cada feição me revela,
Já não me engano, era ela
Era minha filha, sim.
Rompi entre aquele enxame
De feras e canibais,
Pra vingar naquele infame
Meus instintos paternais.
Louco, desvairado, cego,
O saltimbanco estreitei
E de arremesso ao tablado
O crânio lhe esmigalhei
Morreu logo... o que eu queria
Era vê-lo tragar na agonia
Tudo que eu noite e dia
Estes anos eu traguei
O resto, senhores jurados,
O resto, sabei vós
Fui levado entre soldados
Como autor de um crime atroz
Um crime, oh não, uma glória
Um triunfo, uma vitória
No qual honrei a memória
De meus pais, de meus avós.
A minha defesa é esta,
Senhores sentenciais,
Só uma coisa me resta,
Lembrai-vos que eu sou pais
E vós sois como eu creio,
Que senti dentro do peito
O amor de pai,
Não temo o vosso juizo, julgai”.
Calou-se o réu, em silêncio,
Desfez-se a turba em prantos,
Juiz, jurados, todos a chorar...
Ergue-te, exclama o magistrado.
Eu, o intérpreto da lei e dos tribunais
Também sou pai e em teu lugar assim faria e
Talvez ainda mais
Enfim... estás perdoado

Levanta-te! exclama o magistrado
Interprete das leis dos tribunáis
Sou pai como tu és, estas perdoado
Eu, velho, em tei lugar faria mais
Corre, voa ao teu lar, a filha querida

Repleta de tanta dor e emoção
Restitui-lhe a alegria, a paz da vida
Farta teu amor, tua paixão
Ainda chegaste a tempo
A flor mimosa que impura mão roubou de teu jardim
Ainda tem o gentil frescor da rosa e a cândida pureza do jasmim!

(José Vasco)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O QUE NÃO É AMOR

Já falou-se tanto em amor, amizade e paixão...
Que tal falarmos do que não é amor?
Se voce precisa de alguém para ser feliz, isso não é amor.
É carência.
Se voce tem ciúme, insegurança e faz qualquer coisa para conservar alguém ao seu lado, mesmo
sabendo que não é amado, e ainda diz que confia nessa pessoa, mas nao nos outros, que lhe
parecem todos rivais, isso nao é amor.
É falta de amor próprio.
Se voce acredita que "ruim com ele, pior sem ele, e sua vida fica vazia sem essa pessoa; nao consegue se imaginar sozinha e mantém um relacionamento que ja acabou só porque nao tem vida própria - existe em função do outro - isso nao é amor.
É dependência.
Se voce acha que o ser amado lhe pertence; sente-se dona e senhora de sua vida e de seu corpo; nao lhe dá o direito de se expressar, de ter escolhas, só para afirmar seu domínio, isso não é amor.
É egoísmo.
Se voce nao sente desejo; não se realiza sexualmente; prefere nem ter relações sexuais com essa pessoa, porém sente algum prazer em estar ao lado dela, isso não é amor.
É amizade.
Se vocês discutem por qualquer motivo; morrem de ciumes um do outro e brigam por qualquer coisa; nem sempre fazem os mesmos planos; discordam em diversas situações; não gostam de fazer as mesmas coisas ou ir aos mesmos lugares, mas sexualmente combinam perfeitamente, isso nao é amor.
É desejo.
Se seu coração palpita mais forte; o suor torna-se intenso; sua temperatura sobe e desce vertiginosamente, apenas em pensar na outra pessoa, isso não é amor.
É paixão.
Agora, sabendo o que não é amor, fica mais fácil analisar, verificar o que está acontecendo e procurar resolver a situação. Ou se programar para atrair alguém por quem sinta carinho e desejo; que sinta o mesmo por voce, para que possam construir um relacionamento equilibrado no qual haja, aí sim, este verdadeiro e eterno amor.

Meu pai disse-me um dia:
- "Filho... voce terá três tipos de pessoa na sua vida:
. Um amigo, aquela pessoa que voce terá sempre em grande estima, que voce sabe que poderá contar sempre; que bastará voce insinuar que está precisando de ajuda e a ajuda está sendo dada;
. Uma amante, aquela pessoa que faz o seu coração pulsar; que ará com que voce flutue e nada importará quando voces estiverem juntos;
. Uma paixão, aquela pessoa que voce amará, desejará incondicionalmente, às vezes nem lhe importando se ela lhe quer ou não, e talvez ela nem fique sabendo disso.
- Mas se voce conseguir reunir essas três pessoas numa só -pode ter certeza meu filho: - Voce encontrou a felicidade." (Augusto Schimanski - 1928/1973)

domingo, 23 de agosto de 2009

OUÇA ISTO OU PÉ DO OUVIDO

Tem cara que acha que ser macho
É andar berrando aos quatro ventos
É aparentar nao ser de ninguém um capacho
É fugir de si e dos sentimentos...
Gozado, como o mundo está cheio de macho!
Gente que espezinha
Gente que humilha
E faz-se rei com coroas de escularchos
E usa como tapete a propria família...
Macho, ouça isto ao pé do ouvido:
Porque voce nao ouve dos seus filhos o gemido?
Eles estão tristes e oprimidos.
Mais tarde, os anos o consomem e voce vai ver o que seria melhor,
Se tivesse tido um amor maior
E, em vez de macho, tivesse sido somente homem. (Neimar de Barros: O livro proibido)

A CERTEZA DA DÚVIDA OU A DÚVIDA DA CERTEZA?...

Faz tempo amor, que vivemos de incertezas
De desencontros e reencontros que buscam apenas o eclodir definitivo do último encontro.
Qualquer coisa pode justificar as nossas incerteza por causa da nossa insegurança.
Mas, se tanto tempo já passou, se tantas forças adversas nao conseguiram
Colocar-nos em caminhos simplesmente paralelos, que nao se encontram nem no infinito
Se as forças contrárias, as maldades, a inveja, nada, nada disso conseguiu afastar-nos definitivamente
Se as diferenças, as desigualdades nos fizeram cada vez mais iguais
Porque meu querido, agora, depois de tudo e de tanto, quando a luz no final do caminho ja parece brilhar mais forte, mais consistente, porque amor, porque essa dúvida?...
Será que o único caminho para voltar, ara ficar de vez, é o caminho da partida,
Do adeus temporário que nos mostraria o caminho dessa volta tão ansiada?...
Para voltar é preciso partir. Partir com que caminhos, com que estradas, com que atalhos?...
Depois de muito tempo, chegamos a conclusão que entre nós havia uma certeza absurda de muitas dúvidas.
A convivência, as lágrimas que choramos juntos, o silêncio que juntos fizemos longos ou breves.
Os adeus ensaiados, as voltas amigas.
Os retalhos de felicidade
Os vazios...
Tudo, meu querido, nos deixava vacilantes.
Daí, a certeza da dúvida.
E a vida, o destino, ou seja lá que tenha sido, brincou conosco
E, depois colocou-nos após a separação amarga, frente a frente.
Novamente nossos caminhos tinham passos que deixavam rastros paralelos,
Caminhávamos na mesma direção.
E o vazio de outrora encheu-se com a tua presença.
Os fantasmas do medo e do receio estavam muito mais temerosos de outros fantasmas:
Os da maldade alheia, da inveja ou do descontentamento daqueles que nao sabem nem o que Querem para si, quanto mais para os outros
Vestindo-se de uma falsa bondade ou pálidos conselhos e opiniões
Para dar vazão às suas vontades de destruir, de separar, de semear desunião, tristeza, dor
E ver chorar a saudade dos que se separam..
não importa quão breves sejam os momentos...
Não importa que eu me vista de mistério,
Que minta um nome para amar o verdadeiro nome.
Não importa nada.
O que conta é a certeza da tua presença, aqui, comigo, agora.
Isto, me faz feliz e, o que me corta, o que me despedaça é a encruzilhada
Que nos deixa diante de dois caminhos:
Era preferível ter a certeza da dúvida quando não sabíamos o que fazer
Ou a dúvida da certeza, quando ja sabemos o que queremos?
Que me acenes, que me digas adeus, que partas...
Que conheças novos caminhos e novas fronteiras e prazas os céus,
Que voltes um dia e, se Deus glorioso e clemente
Colocou-nos no mesmo barco em direção ao futuro
Que voltes para mim, porque ainda temos muito caminho pela frente e,
Quem sabe, se lá no fim nao nos espera a felicidade? (AD. Transcrito para minha agenda 13/08/1979)

ORAÇÃO DO AMOR

Sabe Cristo, um dia
Numa volta do caminho da vida
A gente se conheceu
Um olhar...
Um olá sem compromisso...
Um encontro ocasional...
Outro enconto
Tantos encontros que aconteceram depois.
Então a descoberta,
Tímida primeiro, esperança depois
Certeza enfim: nós nos amamos!
Voce Cristo.
Voce está muito por dentro do contexto de quem ama
Voce é a imagem viva do amor de Deus aos homens
Então Cristo,
Que a gente saiba viver este tempo de namoro
crescendo na comunhão profunda do amor
Para poder caminhar juntos pela vida, em todos os seus momento.
Cristo...
Que nosso amor leve a um encontro que ultrapasse tempo e espaço
E penetre na eternidade.
Obrigada Cristo
Porque nós somos um para o outro. (AD)

VONTADE INCONTIDA

Havia dentro de cada um de nós uma sede muito grande,
Uma ânsia, uma vontade incontida de nos vermos de novo
E isso acarretava aquilo a que chamariamos de "cobrança" de presença,
De sentimentos mais sólidos e ao mesmo tempo lógicos.
E tanto a solidez como a lógica eram coisas que não podiam nem passar perto de nós.
Havia também um medo, um receio enorme, uma revolta.
De repente, aqui dentro, uma vontade incontida de fugir, de escapar...
De repente aquele medo enorme pelos prenúncios de um furacão violento
Que se formava dentro de mim,
Pela absoluta falta de condição de construir um abrigo mais sólido.
Dentro de mim já existiam cicatrizes profundas e ainda recentes de golpes fortes.
Tudo que eu recisava era de um pouco de paz.
A minha volta via apenas rostos confusos e nos quais eu não podia confiar
Havia um homem assustado, inseguro, indeciso
Aparentemente forte, mas no fundo frágil e infantil e de lágrimas fáceis
Havia uma mulher que era uma espectadora privilegiada e indiferente
Havia uma criança com rosto inocente e interrogativo
Havia desespero, muita luta, brigas e intrigas
Havia um lar que se desfazia, que se despedaçava
Havia uma fuga
Havia muito medo
Havia um corpo cheio de desejo e uma força controladora e aferidora
Para medir o "tanto" e o "quanto" que nós poderíamos oferecer um ao outro...
Que tudo aquilo que estiver para acontecer...
Que aconteça bem depressa,
Porque...
Incoerente ou não, está palpitando, aqui dentro de mim,
Num engasgo e num soluço mudo
A mesma vontade de te ter novamente entre os meus braços.
(AD. transcrito para agenda 08/05/1979)

DEVANEIO

Sempre quando chega a noite e a solidão
Desejo falar com voce.
A saudade de sua voz penetra dentro de mim
Como o luar dentro de uma noite mansa
De dia voce traz os encantos das horas mortas
E o eco de suas belas palavras
Através de um simples olhar. (AD)